domingo, 2 de março de 2008

O QUE É FILOSOFIA HEDONISTA?


Hedonismo vem do grego hedone e significa literalmente “prazer”. O Hedonismo é uma teoria ou doutrina filosófico-moral que considera o prazer individual e imediato como o supremo bem da vida. Assim, o prazer é visto como o único bem possível, princípio e fim da vida moral, de forma que se deve evitar tudo o que possa ser desagradável.
Esta doutrina surgiu muito cedo na história da filosofia grega, em duas modalidades: a primeira toma o prazer como critério das ações humanas; a segunda considera o prazer como único valor supremo.
O hedonismo moderno procura fundamentar-se numa concepção mais ampla de prazer entendida como felicidade para o maior número possível de pessoas.


1. Aristipo de Cirene (435-366 a.C.)
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No período pós-socrático, um dos maiores defensores da doutrina hedonista foi o filósofo grego, filho de uma rica família, Aristipo de Cirene (435-366 a.C.), discípulo de Sócrates e fundador da escola cirenaica de filosofia. Ganhava sua vida lecionando e escrevendo na corte de Dionísio de Siracusa.
Aristipo foi para Atenas estudar com o filósofo Sócrates, onde teve de aceitar ao modo simples de vida do seu mestre que, muito embora não considerasse o prazer como sendo um mal, como ensinava Antístenes, também não o considerou como sendo um bem. Rompendo com a posição socrática, Aristipo afirmava que o prazer é sempre um bem, qualquer que seja a fonte de onde derive, ou seja, a virtude da ética dessa escola era o habito de bem gozar o prazer.
Como Sócrates, Aristipo se interessou quase que exclusivamente pela ética. Segundo o filósofo, a vida ética deveria ser praticada para atingir um fim específico que era o gozo de todo prazer imediato. Porém, Aristipo defendia um controle racional sobre o prazer para que não se desenvolvesse uma dependência perniciosa. Ou seja, o ser humano não poderia se tornar refém incondicional dos prazeres.
A filosofia hedonista retêm da famosa frase socrática "conhece-te a ti próprio" uma lição de egocentrismo utilitário. Para os hedonistas conhecer-se a si próprio era definir o prazer e procurá-lo. O bem se reconduzia ao prazer ou ao refinamento no prazer, objetivo para uma vida guiada pela razão.
Segundo Aristipo, o bem consistia apenas nas sensações agradáveis e a sensação agradável era sempre atual. O fim do homem era portanto o prazer, não a felicidade, pois esta é conseqüencia daquele.
Para Aristipo, o prazer era uma coisa precisa que só existia no instante presente. Por isso, não dava qualquer valor à recordação dos prazeres passados e à esperança nos futuros, mas apenas ao prazer do instante. Aristipo dizia que "só o presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um já está destruído e o outro não sabemos se existirá (Abbagnano, p. 119). Portanto, aceitar o prazer do instante era a via da virtude.
Aristipo pôs em destaque do ensino de Sócrates o imperativo de independência pessoal e de procura do bem.
A crença básica que está por trás da filosofia hedonista é a de que todas as ações humanas podem ser medidas em relação ao prazer e a dor que produzem. Pode-se dizer, também, numa linguagem mais simples, que o Hedonismo é a arte de ser, não a de ter.
Dos escritos de Aristipo quase nada restou; deixando raros fragmentos. Tudo o que se conhece da reflexão filosófica de Aristipo decorre do comentário de terceiros.
A escola cirenaica foi a primeira escola hedionista que encontrou prolongamento, um século mais tarde, na filosofia de Epicuro.
2. Epicuro (341-270 a.C.)
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Ao contrário do que se comumente se propaga, Epicuro jamais preconizou uma vida descomedida, desregrada, voluptuosa, ditada pelo prazer imediato, que são demandas do homem vulgar. Muito pelo contrário , para o epicurista o prazer deve ser refletido, balizado pela razão, selecionado de forma sábia e filosoficamente, aonde o prazer deve ser dominado, aonde o gozo seja produto não da necessidade, mas de uma deliberação racional. Ele classificava os prazeres em três categorias:

1º) os naturais e inadiáveis;

2º) naturais, porém desnecessários; e

3º) nem naturais e desnecessários.

O sábio deveria ater-se tão somente aos primeiros. Embora o fim supremo da vida para Epicuro fosse o prazer e o único mal a dor, entretanto, para ele, é razoável optar pela dor, se o seu fim for um grande prazer, como também, é razoável desprezar o prazer se este redundar em dor.

O hedonismo epicurista é conseqüente, ponderado, e jamais inconseqüente e imediatista. Prazer para Epicuro é meramente ausência da dor.
Outrossim, a aplicabilidade da ética epicurista consiste em sustentar que o prazer advindo do estético e do intelectual, tem proeminência sobre o prazer espiritual, pois o prazer espiritual, segundo Epicuro, se projeta ora no passado, ora no futuro, dado seu caráter transcendente, enquanto o prazer estético e intelectual no presente.
Para Epicuro o foco está no dia-a-dia, no quotidiano, na práxis, a vida sendo vivida integralmente a cada minuto que se desdobra diante de nós. A felicidade está na capacidade de romper com as ansiedades pela preocupação com o amanhã, e com os temores que nos atormentam, especialmente o medo dos deuses e da morte. É necessário banir os objetos do medo e controlar os objetos do desejo. Tudo quanto fere o corpo, sejam os apetites, sejam as ansiedades, e tudo quanto perturba o espírito humano deve ser banido, exceto as necessidades essenciais.
Para Epicuro o desejo é inimigo do sossego. Aquele que conseguir se por na vida desta forma será feliz e desfrutará do que denominava de ataraxia, palavra grega que significa a ausência de paixão, imperturbabilidade; tranqüilidade de um espírito sadio, ou de um estado despido de qualquer perturbação.